Cuide do Bolso

Devo manter minha caderneta de poupança?

 

Tenho recebido esta pergunta com alguma frequência e me espanta a quantidade de pessoas que ainda mantêm seus recursos na poupança. Leia-se poupança aqui como produto de investimento, não estou me referindo ao ato de poupar; e sim à caderneta de poupança, a meu ver o que ocorre é um fenômeno muito mais emocional do que racional, as pessoas tem uma ligação de conforto com a poupança, afinal ela é tão conhecida, tão familiar que ficamos seguros pelo efeito da familiaridade.

É perfeitamente compreensível este aspecto familiar, pois quando conhecemos os fatos a caderneta de poupança foi legitimada no Brasil por D. Pedro II, através do decreto nº 2.723, de 12 de janeiro de 1861, ou seja, é muito tempo de convivência mesmo.

Muitos de nós cresceram com avós que presenteavam com uma caderneta de poupança. Ouvimos nossos pais, tios, amigos falando de poupança desde que nos entendemos por gente.  O problema é que esta sensação nos ilude quanto a seus reais resultados.  Veja estes cálculos:

A rentabilidade da poupança nos últimos 10 anos foi de 103,51%, se você tivesse aplicado cem mil reais neste período, teria hoje R$ 203.508,73, mas calma antes de achar ótimo, veja de quanto foi a inflação no mesmo período, calculada pelo IPCA (índice oficial adotado pelo governo para medir a inflação); 70,58%%!  O que quer dizer que seu dinheiro na poupança na realidade vale R$ 143.636,46, ou seja, compra o equivalente ao que este valor comprava 10 anos atrás.  Em outras palavras se você queria comprar uma casa que custava duzentos mil reais há dez anos hoje vai faltar dinheiro!

E porque isto acontece?

Simples de explicar, mas é muito difícil de acompanhar e muito mais difícil agir nesta inércia do entra dia, passa dia e nós acabamos por deixar o assunto passar…

É muito importante entendermos que todo período de tempo que passa afeta o valor do nosso dinheiro. E especialmente no Brasil onde os preços mudam com tanta velocidade que nem prestamos mais atenção nisto.  No entanto não devemos nunca, mas nunca mesmo, nos esquecer de que precisamos no mínimo, fazer com que nosso dinheiro continue comprando as mesmas coisas no tempo. E o ideal é ganharmos alguns juros acima do necessário para tanto. Obviamente considerando o risco adequado.

Veja, se estou guardando dinheiro é porque estou adiando o uso deste dinheiro, e quando chegar lá (no futuro que eu idealizei, pode ser meses, dias ou anos) preciso ter o suficiente para comprar as coisas que poderia comprar quando resolvi guardá-lo.   Não é nada bom ser surpreendido quando chegamos lá e não temos mais tempo de corrigir o mal feito. Lembrei-me de uma colega de trabalho, muito inteligente por sinal, ela fazia estágio de economia no banco por volta de 1995 e tive o prazer de supervisionar sua monografia de formatura, ela me contou que na sua infância havia ganhado da avó uma caderneta de poupança no valor suficiente para comprar um fusca, e agora que ela havia resolvido comprar o tal fusca (havia uma amarração de idade mínima), o dinheiro mal dava para comprar os pneus do fusca!

Isto é que quero dizer com perder valor no tempo, e pode ter certeza que esta é uma decepção irremediável, porque o tempo já foi e não volta mais. Ou seja, acabamos por descobrir que perdemos dinheiro mesmo  estando com o dinheiro lá na nossa conta!
Pois é amigos, a solução é acompanhar seus investimentos sempre e não deixar o tempo passar sem conferir o que está ocorrendo com nosso poder de compra, em relação aos rendimentos do dinheiro que estamos investindo.  Por exemplo, se estou ganhando 13% ao ano e a inflação medida pelo IPCA (Índice de preços que mede a inflação oficial no Brasil) é de 8,13% ao ano, então a taxa real de juros é a diferença, ou seja, 4,73% a.a.! Em outras palavras o que te deixa mais rico em seus investimentos é esta taxa de 4,73%a.a. e não aquela de 8,13 % a.a que apenas recupera (às vezes, mas depois explico isto em outro artigo) o que chamamos aqui de poder de compra.

E então você deve estar pensando, afinal onde investir para preservar meu poder de compra?

A boa noticia é que hoje em dia, há muitas maneiras de fazer isto correndo o mesmo nível de risco que a poupança.

No próximo escreverei sobre alternativas à caderneta de poupança e como tomar conta do meu poder de compra, e até mesmo em que circunstâncias a própria poupança no futuro poderia valer a pena.

E por favor, caso tenha alguma pergunta ou sugestão de tema que você gostaria que eu desenvolvesse, responderei com muito gosto, pois adoro este contato com vocês.

 

Até breve.

 

25.05.2015

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